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O mestre em Letras: Teoria, Crítica e Comparatismo Ronald Augusto, estabeleceu uma conexão entre a escrita de Machado de Assis e aspectos da cultura afrodiaspórica brasileira. Segundo o crítico Luiz Costa Lima, a escrita da dissimulação de Machado de Assis pode ser explicada como a transfiguração de um particular modo de ser-no-mundo negro-brasileiro, o jogo da capoeira enquanto forma de filosofia prática: a ginga que se resolve em pensamento puro.
Costa Lima analisou as crônicas escritas por Machado para a Gazeta de Notícias e referiu-se ao autor como “mestre de capoeira”. Ele agia menos como documentalista do que como escritor ao reconstituir fatos ocorridos ao longo de uma semana. As crônicas do Machado capoeirista seguem próximas à percepção nietzschiana segundo a qual a história sobrecarrega a memória.
Henrique Freitas tem ideias sobre o conceito de literatura-terreiro. O Machado mestre do jogo de capoeira é uma metáfora do jogo de corpo que dissimula suas intenções; é a fala poética do sotaque jongueiro, elisão e rasura de significados. Tudo se relaciona ao pensamento vivo do corpo negro e suas estratégias de sobrevivência por meio de uma estética e de uma eticidade radicalmente pansemióticas e conviviais. Para Henrique Freitas, a noção de dissimulação é um processo estruturante das formas de vida e de pensamento do negro no Brasil.
A dissimulação “como resposta ao panoptismo colonial já estava também na forma como a cosmogonia africana encontrou para sobreviver ao racismo epistêmico no Brasil, seja na capoeira, seja na feijoada ou ainda na abordagem encruzilhada dos orixás com os santos católicos”.
Nesse jogo arriscado requerido pela sobrevivência frente à violência colonial, as formas de vida e os estados mentais negros esposam o compromisso de fazer a mediação entre sua cultura estilhaçada e a cultura europeia e suas expropriações materiais e espirituais. A dissimulação exerce seu jogo tanto no espaço público como no privado; seu discurso negaceia afirmações e contraditas que se fazem acompanhar da marcação de uma piscadela de olhos aos iguais, senha de uma metalinguagem a assinalar que suas palavras não devem ser levadas a sério, quando na verdade se trata do contrário.
O jongo: um legado da cultura afro-brasileira
O jongo é originário da região africana do Congo-Angola. O ritmo que também se transformou em dança chegou ao Brasil trazido pelos negros escravizados. A festa dos jongueiros não é restritamente religiosa. Os jongueiros procuram vencer um ao outro através dos pontos enunciados aos integrantes da roda. A linguagem cifrada se estrutura em torno de formulações linguísticas detonadoras da mutação semântica das palavras.
Quem? | Ronald Augusto |
O quê? | Conexão entre a escrita de Machado de Assis e aspectos da cultura afrodiaspórica brasileira |
Como? | Análise das crônicas escritas por Machado para a Gazeta de Notícias e referência ao autor como “mestre de capoeira” |
Por quê? | Para estabelecer uma estética alusiva ao jogo da capoeira e ao jongo, relacionados com poéticas e filosofias específicas da diáspora |